Com o retorno do crescimento das viagens corporativas ao longo de 2023, empresas e gestores estão enfrentando uma série de desafios que exigem atenção estratégica. O aumento nos custos de passagens aéreas, hospedagens e transporte terrestre, combinado com a escassez de mão de obra no setor turístico, continua sendo uma preocupação para muitas companhias. Além disso, a mudança nas prioridades dos trabalhadores, influenciada pelas transformações no ambiente de trabalho nos últimos anos, levou as organizações a reavaliar a necessidade e o propósito de cada viagem.
Para 2024, as empresas enfrentam o desafio complexo de equilibrar custos, experiência do usuário e responsabilidade ambiental, visando uma gestão mais eficiente e sustentável.
Custos Elevados
Um dos principais desafios que as empresas enfrentaram em 2023, no âmbito da gestão de viagens, deverá persistir ao longo de 2024: o acréscimo nos custos de passagens aéreas, estadias em hotéis e transporte terrestre, abrangendo aspectos como o preço dos combustíveis e o aluguel de carros. Guilherme Rizzi, diretor de TMC da Paytrack, uma empresa especializada em tecnologia para despesas e viagens corporativas, explica que alguns efeitos decorrentes da pandemia ainda impactam o setor de turismo, notadamente a redução na oferta de mão de obra ao longo de 2020 e início de 2021, com muitos profissionais migrando para outros setores devido à diminuição da demanda. Rizzi destaca também que a inflação tem sido um fator contribuinte para o aumento de preços em diversos países, afetando tanto as viagens domésticas quanto as internacionais.
Não causa surpresa o fato de que 48% das empresas que participaram da pesquisa GBTA Business Travel Index Outlook, divulgada pela Global Business Travel Association em julho deste ano, tenham destacado a redução de custos nas viagens como sua principal prioridade para 2023. Contudo, existem motivos para otimismo: de acordo com o Corporate Travel Study da Deloitte, há indícios de que até o final de 2024 ou início de 2025, o mercado de viagens corporativas estará totalmente recuperado globalmente, o que favorecerá o retorno dos preços a níveis semelhantes aos observados antes da pandemia.
“Um dos principais impulsionadores do setor são os eventos presenciais, que foram muito sentidos pelas pessoas durante a pandemia”, afirma Guilherme. A pesquisa da Deloitte revela que, em 2022, a participação em eventos presenciais estava em quinto lugar na lista de investimentos relacionados a viagens corporativas, mas saltou para a primeira posição em 2023.
Redefinição de Prioridades
A forma como os colaboradores atuam tem impacto direto na percepção das viagens corporativas pelas pessoas e empresas. Desde o início da pandemia, os trabalhadores em todo o mundo se acostumaram com maior flexibilidade, realizando reuniões virtualmente e valorizando o bem-estar e a saúde mental no ambiente corporativo. Tudo isso deve ser considerado ao planejar a gestão de viagens.
“As empresas precisam compreender por que cada viagem é necessária e comunicar isso claramente aos colaboradores”, diz Cibeli de Oliveira, gerente de Produto da Paytrack. “Como essa viagem beneficia a relação com o cliente? Como ela afeta os resultados da empresa?” Uma pesquisa recente da Accor mostrou, por exemplo, que 25% dos entrevistados acreditam que há mais chances de fechar um negócio em um encontro presencial. “É crucial ir além disso, questionando como a viagem impactará o meio ambiente ou o bem-estar do viajante”, continua Cibeli. “O mercado tem destacado muito as viagens com propósito, e esse propósito nunca deve ser perdido de vista ao planejar as viagens corporativas.”
Com a crescente valorização do bem-estar do viajante corporativo, a Sabre Insights identificou duas tendências que ganharam destaque em 2023: a preferência por viagens mais longas, com cerca de três dias de duração, otimizando o investimento no deslocamento e proporcionando mais tempo para cumprir compromissos e até mesmo explorar novos destinos; e a antecipação do planejamento e das reservas de viagens, garantindo voos e hospedagens mais confortáveis sem um aumento significativo nos custos.
Ausência de Dados para Análises
Daquelas empresas que participaram do GBTA Business Travel Index Outlook, 37% enfrentam dificuldades na geração de dados sobre viagens corporativas para análises futuras e melhorias na gestão. Como em qualquer processo interno, a coleta e avaliação de dados sobre a gestão de viagens são essenciais.
“Ao monitorar e analisar informações relacionadas a esse processo, as empresas podem identificar gargalos, ineficiências e áreas de melhoria”, exemplifica Guilherme Rizzi, da Paytrack. “Por exemplo, é possível identificar o uso de hotéis em regiões com menor estrutura de alimentação, aumentando os reembolsos de jantar, ou a escolha de hotéis com menor custo, mas não o melhor valor em termos de localização, aumentando o uso de serviços de mobilidade.” Isso permite a implementação de melhorias contínuas e a tomada de decisões mais informadas e estratégicas.
A análise de dados também possibilita a detecção precoce de potenciais problemas, permitindo que as empresas adotem medidas antes que se tornem crises. Utilizar a tecnologia, como um sistema de gestão de viagens que inclua a coleta de dados, é uma maneira eficaz de reunir essas informações. No entanto, tão importante quanto obter os dados, é analisá-los regularmente, comparando-os com a realidade da empresa e avaliando como podem fornecer importantes indicações para melhorias.
Experiência do Usuário
Falando em sistemas de gestão de viagens, 49% das organizações que participaram do GBTA Business Travel Index Outlook ainda identificam problemas de experiência do usuário nas plataformas especializadas utilizadas. 47% reclamam de questões na gestão de alterações e cancelamentos, enquanto 27% afirmam que as ferramentas não proporcionam uma experiência consistente entre dispositivos.
“Não adianta adotar um sistema que os colaboradores considerem confuso ou pouco intuitivo”, comenta Cibeli de Oliveira, da Paytrack. “A interface deve ser acessível e prática, tanto para acesso via computador quanto para aplicativos móveis. As novas ferramentas de viagem precisam seguir a jornada de um viajante corporativo. Os recursos essenciais para a organização de uma viagem devem estar disponíveis. Organizar uma viagem a negócios deve ser tão simples quanto planejar uma viagem de lazer. Além disso, os sistemas de gestão de viagens corporativas devem evoluir regularmente. Uma ferramenta complicada ou com poucas informações não será efetivamente utilizada pela equipe, gerando mais demandas de suporte e apoio para áreas específicas da companhia, o que pode frustrar os colaboradores, que deveriam estar focados no propósito da viagem, não na organização.”
Sustentabilidade
Empresas em todo o mundo estão estabelecendo metas ESG e se comprometendo a reduzir suas pegadas de carbono. As viagens corporativas chamam a atenção nesse contexto, pois ainda é desafiador neutralizar as emissões geradas por uma viagem. Por isso, fornecedores, como companhias aéreas, grandes redes de hotéis e locadoras de carros, estão adotando medidas para tornar suas atividades mais sustentáveis, desde a adoção de energia solar até o compromisso com a transparência das emissões de carbono, passando por iniciativas de economia de água e programas de reciclagem ou reutilização de resíduos.
Contratar fornecedores e parceiros alinhados com a cultura ESG é crucial para uma gestão mais sustentável das viagens corporativas, mas outras práticas também podem e devem ser adotadas. “Priorizar voos diretos, sem escalas, e escolher hotéis próximos aos locais de destino são medidas recomendáveis. Quanto mais próxima a hospedagem estiver do destino final, menor será a pegada de carbono. Da mesma forma, nos deslocamentos terrestres, sempre que possível, é aconselhável escolher meios de transporte menos poluentes, como transporte público e veículos híbridos”, lista Guilherme Rizzi, da Paytrack.
Referências
fonte: https://inforchannel.com.br